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sexta-feira, 1 de julho de 2011

A DIMENSÃO DA ESCRITA E ESTUDO DO TEXTO

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ – UVA
CENTRO DE LETRAS E ARTES
PRODUÇÃO DE TEXTO


A DIMENSÃO DA ESCRITA E ESTUDO DO TEXTO

                                                                       Sueli de Lima Silva

RESUMO : Este artigo tem como propósito apresentar uma análise sobre a escrita na fase inicial da aprendizagem, considerando discussões sobre seu desenvolvimento, o modo como o professor percebe a linguagem, estabelece suas estratégias de ensino,contextos e uso. Este estudo teve como base, alguns estudiosos como; Oliveira, Taberosky, Fonseca. Foi possível perceber pela pesquisa bibliográfica, como se dá o processo de escrita durante o desenvolvimento da criança.

PALAVRAS-CHAVE: Aprendizagem inicial da escrita. Texto e contexto. Escola. Linguagem.

INTRODUÇÃO
A aprendizagem da escrita não é um processo natural e automático, pelo contrário, a aprendizagem da escrita exige trabalho, sistematização e persistência, tanto por parte do aprendiz como por parte do mestre. A modalidade escrita vai desde a fase de aquisição, consciência da relação fonema-grafema; a fase de estruturação gramatical, organização da escrita da frase; até a escrita do texto, composição dos parágrafos.
Segundo Oliveira (2004, p.294) “escrever traz como propósito comunicar”. Quando estamos conversando, não utilizamos palavras soltas e desconectas, pois assim, não haveria comunicação, utilizamos mensagens claras e objetivas, que serão facilmente compreendidas pelo receptor, a isso chamamos textos. Por isso se entende que todo e qualquer nível de escrita deve ser compreendido como mensagem e não como fato isolado. Não devemos estudar a relação grafema-fonema sem contexto, assim como não devemos estudar a estrutura da frase sem configurar uma situação de comunicação, e o texto também não deve ser compreendido apenas como uma composição sem fins intencionais.
A LINGUAGEM ESCRITA

A linguagem escrita em qualquer comunidade lingüística revela um domínio muito sofisticado da ortografia, da sintaxe, e do texto no uso da língua, mesmo quem possui um vocabulário bem rústico se expressa dentro de um rigor gráfico, sintático, e textual bastante elevado, e o maior desafio do professor é ajudar ao aluno a transferir fatos da linguagem sem planejamento para a linguagem escrita, que exige planejamento. Pois o ato de escrever tem como objetivo um leitor real ou presumido com uma determinada estrutura característica do propósito ou gênero discursivo.
Uma atividade de transferência de uma modalidade escrita próxima da oralidade para a modalidade escrita padrão, com o objetivo de aperfeiçoar a linguagem escrita pode ser vista pela proposta de um professor do nono ano em Senador Sá, o educador Fausto Rocha, atividade extraída de um manual de apoio do professor.
Exemplo
           Atividade para o nono ano: Transfira este texto narrativo para um texto dissertativo, interpretando o que o autor diz:
                           TEXTO META
         “Dois senhores, um intelectual e outro não escolarizado, encontram em uma reunião da associação do bairro. A palavra famigerado é pronunciada e os dois entram em discussão por causa do significado que não é compreendido por um deles. E assim os dois conversam:
Se certo! Era para se empenhar a barba. Do que o diabo, então eu sincero disse:
— Olhe: eu, como o sr. me vê, com vantagens, hum, o que eu queria uma hora destas era ser famigerado — bem famigerado, o mais que pudesse!...
— "Ah, bem!..." — soltou, exultante.
Só tinha de desentalar-me. O homem queria estrito o caroço: o verivérbio.
Famigerado é inóxio, é "célebre", "notório", "notável"...
— "Vosmecê mal não veja em minha grossaria no não entender. Mais me diga: é desaforado? É caçoável? É de arrenegar? Farsância? Nome de ofensa?"
— "Pois... e o que é que é, em fala de pobre, linguagem de em dia-de-semana?"
Famigerado? Bem. É: "importante", que merece louvor, respeito...— "Vosmecê agarante, pra a paz das mães, mão na Escritura?"
-  Famigerado é aquele que tem fama, que é notável, celebridade, que é muito conhecido pelo mundo inteiro.
- Ah! Sim... entendi...

        A proposta do professor era levar o aluno a entender que uma narrativa escrita é um tipo de escrita que se aproxima muito da oralidade e pode receber  outro contexto, quando transformada em um texto de opinião. A partir do momento que os objetivos mudam, mudam também o registro da escrita do texto.
          O texto seguinte se apresentou desta forma:

TEXTO DO ALUNO
DÊ SUA OPINIÃO SOBRE O ACONTECIDO: UM PONTO DE VISTA COM JUSTIFICATIVA CONFLITIVA E UMA SINTESE FINAL.
             Uma conversa eficiente só tem progressão quando duas ou mais pessoas usam o mesmo vocabulário, têm a mesma leitura e sabem organizar logicamente as suas idéias, a sua informação.
             Se um dos falantes não entende, por exemplo, a palavra pronunciada por um dos interlocutores, a conversa não progride, a mensagem se atrofia, estanca, para. E um deles fica fazendo papel de bobo, é até motivo de chacota.
             E não adianta falar que não se deve ter preconceito, porque não tem jeito, alguém sai mais rebaixado nesta história. Por isso, o estudo pode ser uma maneira de se passar menos vexame.
              O entendimento entre duas pessoas exige interação pela linguagem, se um deles não falar a língua do outro, não tem jeito, a conversa não anda e alguém fica perdendo nesta história, e logicamente será o que tem menos repertório.

A mudança se deveu a mudança de uma narrativa para uma opinião, onde foram substituídos termos mais próprios da fala para a escrita, frases exclamativas e curtas foram substituídas por construções subordinadas, o discurso falado ou dialogado deu lugar ao discurso argumentativo, os aspectos fonográficos se adequaram aos aspectos ortográficos, as estruturas frasais ganharam uma nova ordenação e complexidade sintática. O discurso estruturado de forma narrativa passou a se compor de forma argumentativa, em vez de um encadeamento de eventos para se chegar ao resultado final da história, fez-se uma exortação (apresentação de argumentos persuasivos).

O PLANEJAMENTO DAS ATIVIDADES

O planejamento das atividades do professor pode se organizar em torno da mudança de contexto para ensinar a escrita ao aluno. Conforme Motta Roth (2006, p.501), “é preciso fazer referência à necessidade de o aluno ser educado no sentido de fazer a relação e a adequação que se estabelece entre texto e contexto: entre as escolhas que são postas a seu dispor pelo contexto de uso da linguagem”.
Outro aspecto que merece discussão diz respeito às pesquisas no campo da escrita que são muito menores comparando-se com a do campo da leitura, talvez porque nós utilizamos muito mais da leitura do que da escrita, escrevemos pouco, registramos pouco. A nossa sociedade não exige, o contato constante com a escrita. Por exemplo, quando vamos registrar um filho no cartório, não utilizamos escrita e sim o cartorário,quando casamos ou fazemos compra, a escrita é realizada por terceiros, assim a escrita fica muito distante do cotidiano.
Elis cita em um dos seus livros (1995, p.59) “Isso pode refletir o fato de que todos nós usamos nossas habilidades da escrita, na verdade, muitos adultos jamais escrevem algo mais do que um bilhete ocasional (caso cheguem a isso)”.
Compreendemos que a fala sempre vem antes da escrita, à fala é mais direta, e sempre conseguiremos ser entendidos, ao contrário da escrita, que exige certas habilidades para que haja comunicação, solicita do usuário um planejamento específico. Se a sociedade convivesse com uma cultura voltada para o exercício social constante da escrita, saberíamos lidar melhor com esta experiência, que deixaria de ser uma atividade só da escola.
Taberosky (1992, p.70) explica: “A escrita é um sistema que institui suas próprias regras, suas próprias normas e convenções, que se requer um acordo social tanto para sua constituição quanto para sua destituição”. Assim também, de acordo com Fonseca (1995,p.212 ), a linguagem escrita é que mais tempo leva para o homem adquirir, segundo ele, para escrever é necessário que se observem operações cognitivas que resultem da integração dos níveis anteriores da linguagem.
Ou seja, quando falamos sobre a escrita, de imediato nos vem à mente, que para escrever é necessário a organização de pensamentos, descriminação dos sons de letras, conhecer a gramática, ortografia e então começar a escrever. Tudo isso é muito difícil para quem está começando a escrever, por isso a fala acaba sendo a mais utilizada, pois ela pode sair espontaneamente sem precisar pensar em todas essas questões. Isto serve para que possamos entender a complexidade da escrita e da necessidade da criação do hábito de escrever corriqueiramente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo aqui realizado deixa evidente que há muito que se comentar e discutir sobre escrita e estudo de texto, Assim, percebemos que para a construção de um texto não bastam apenas algumas idéias, é preciso cuidado na escolha do assunto, do vocabulário e na construção das frases,pois a função da escrita é comunicar, levar sua ideia e seu pensamento ao leitor; assim, seu texto deve ser claro e objetivo, levando a informação de uma forma que esclareça e não que cause dúvidas, sendo coerente e coeso.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ELLIS, Andrew W. Leitura, escrita e dislexia: uma análise cognitiva. Porto Alegre: Artes. Médicas, 1995

FONSECA,Vitor da.Introdução às dificuldades de aprendizagem.Porto Alegre : Artes médicas,1995.
MOTTA-ROTH, D. ; BARROS, Nina Célia de ; RICHTER, Marcos Gustavo (Orgs.) Linguagem, cultura e sociedade. 01. ed. Santa Maria: Programa de Pós-Graduação em Letras, UFSM,   ISBN: 85-99527-01-0, 2006.

OLIVEIRA, João Batista Araújo e CHADWICK, Clifton. Aprender e Ensinar. 6ª ed. Belo Horizonte: Ática Educativa Ltda, 2004.

TEBEROSKY, Ana, - Aprendendo a escrever. São Paulo: Ática, 1992












*Sueli é aluna do curso de Letras. Este artigo tem como objetivo completar carga horária de disciplina curriculares para obtenção de titulo de graduada.